quinta-feira, 26 de setembro de 2013

À T...

Amoroso palor meu rosto inunda, 
Mórbida languidez me banha os olhos, 
Ardem sem sono as pálpebras doridas, 
Convulsivo tremor meu corpo vibra: 
Quanto sofro por ti! Nas longas noites 
Adoeço de amor e de desejos 
E nos meus olhos desmaiando passa 
A imagem voluptuosa da ventura... 
Eu sinto-a de paixão encher a brisa, 
Embalsamar a noite e o céu sem nuvens, 
E ela mesma suave descorando 
Os alvacentos véus soltar do colo, 
Cheirosas flores desparzir sorrindo 
Da mágica cintura. 
Sinto na fronte pétalas de flores, 
Sinto-as nos lábios e de amor suspiro. 
Mas flores e perfumes embriagam, 
E no fogo da febre, e em meu delírio 
Embebem na minh'alma enamorada 
Delicioso veneno 
Estrela de mistério! Em tua fronte 
Os céus revela, e mostra-me na terra, 
Como um anjo que dorme, a tua imagem 
E teus encantos onde amor estende 
Nessa morena tez a cor de rosa 
Meu amor, minha vida, eu sofro tanto! 
O fogo de teus olhos me fascina, 
O langor de teus olhos me enlanguesce, 
Cada suspiro que te abala o seio 
Vem no meu peito enlouquecer minh'alma! 
Ah! vem, pálida virgem, se tens pena 
De quem morre por ti, e morre amando, 
Dá vida em teu alento à minha vida, 
Une nos lábios meus minh'alma à tua! 
Eu quero ao pé de ti sentir o mundo 
Na tua alma infantil; na tua fronte 
Beijar a luz de Deus; nos teus suspiros 
Sentir as vibrações do paraíso; 
E a teus pés, de joelhos, crer ainda 
Que não mente o amor que um anjo inspira, 
Que eu posso na tu'alma ser ditoso, 
Beijar-te nos cabelos soluçando 
E no teu seio ser feliz morrendo!


Álvares de Azevedo