Caem as folhas mortas sobre o lago;
Na penumbra outonal, não sei quem tece
As rendas do silêncio… Olha, anoitece!
- Brumas longínquas do País do Vago…
Veludos a ondear... Mistério mago...
Encantamento… A hora que não esquece,
A luz que a pouco e pouco desfalece,
Que lança em mim a bênção dum afago…
Outono dos crepúsculos dourados,
De púrpuras, damascos e brocados!
- Vestes a terra inteira de esplendor!
Outono das tardinhas silenciosas,
Das magníficas noites voluptuosas
Em que eu soluço a delirar de amor…
Florbela Espanca
terça-feira, 28 de maio de 2013
sexta-feira, 24 de maio de 2013
Confições de amor
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penoso é laçar o instante propício a confissões de amor.
quando o peito se insufla de coragem
e os lábios fingem não tremer.
quando as mãos se desfraldam como estandartes em campo de batalha.
e quando o gesto torna-se supérfluo
e a boca nada mais é do que um cesto de frutas tenras,
passa uma lufada de vento frio e leva tudo...
até o ramo de magnólias por colher.
(Luís R Santos)
sábado, 18 de maio de 2013
Quem sabe se a lua é
quem sabe se a lua é
um balão, vindo de uma cidade tri
no céu - inflado de gente vistosa?
(e se eu e você devíamos
entrar nisto, se eles
deviam levar a mim a ati no balão deles,
por que então
Subiremos mais com toda a gente vistosa
do que casas e torres e nuvens:
ir navegar
pra longe e longe pra dentro de uma
cidade tri a qual ninguém já visitou, onde
sempre
é
primavera)e todos
em amor e flores se colhem a si
e.e.cummings
sábado, 11 de maio de 2013
O Amor
O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.
Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de *dizer.
Fala: parece que mente
Cala: parece esquecer
Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pr'a saber que a estão a amar!
Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!
Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar..
Fernando Pessoa
quarta-feira, 8 de maio de 2013
Nas entrelinhas
Sou-te
de livro aberto
de palavras ditas
mesmo nas entrelinhas
(as que ainda faltam preencher).
Sou-te no silêncio
nos meus momentos
de solidão
só meus
porque te leio
porque te vejo
não são momentos de tristeza
são só momentos
sentidos
de introspecção.
Permaneço nas garras
deste silêncio
sem tempo...
os ponteiros não correm
e Eu também não.