segunda-feira, 29 de abril de 2013

Confiança


O que é bonito neste mundo, e anima, 
É ver que na vindima 
De cada sonho 
Fica a cepa a sonhar outra aventura... 
E que a doçura 
Que se não prova 
Se transfigura 
Numa doçura 
Muito mais pura 
E muito mais nova... 





Miguel Torga

À Beleza


Não tens corpo, nem pátria, nem família, 
Não te curvas ao jugo dos tiranos. 
Não tens preço na terra dos humanos, 
Nem o tempo te rói. 
És a essência dos anos, 
O que vem e o que foi. 

És a carne dos deuses, 
O sorriso das pedras, 
E a candura do instinto. 
És aquele alimento 
De quem, farto de pão, anda faminto. 

És a graça da vida em toda a parte, 
Ou em arte, 
Ou em simples verdade. 
És o cravo vermelho, 
Ou a moça no espelho, 
Que depois de te ver se persuade. 

És um verso perfeito 
Que traz consigo a força do que diz. 
És o jeito 
Que tem, antes de mestre, o aprendiz. 

És a beleza, enfim. És o teu nome. 
Um milagre, uma luz, uma harmonia, 
Uma linha sem traço... 
Mas sem corpo, sem pátria e sem família, 
Tudo repousa em paz no teu regaço. 

Miguel Torga

terça-feira, 23 de abril de 2013

Ternura

Eu te peço perdão por te amar de repente 
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos 
Das horas que passei à sombra dos teus gestos 
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos 
Das noites que vivi acalentado 
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo 
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente 

E posso te dizer que o grande afeto que te deixo 
Não trai o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas 
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma... 
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias 
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta 
E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o 
olhar extático da aurora. 


Vinicius de Moraes

A estrada não trilhada


Num bosque, em pleno outono, a estrada bifurcou-se,
mas, sendo um só, só um caminho eu tomaria.
Assim, por longo tempo eu ali me detive,
e um deles observei até um longe declive
no qual, dobrando, desaparecia…

Porém tomei o outro, igualmente viável,
e tendo mesmo um atrativo especial,
pois mais ramos possuía e talvez mais capim,
embora, quanto a isso, o caminhar, no fim,
os tivesse marcado por igual.

E ambos, nessa manhã, jaziam recobertos
de folhas que nenhum pisar enegrecera.
O primeiro deixei, oh, para um outro dia!
E, intuindo que um caminho outro caminho gera,
duvidei se algum dia eu voltaria.

Isto eu hei de contar mais tarde, num suspiro,
nalgum tempo ou lugar desta jornada extensa:
a estrada divergiu naquele bosque – e eu
segui pela que mais ínvia me pareceu,
e foi o que fez toda a diferença.


Robert Frost

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Almas sinceras


De almas sinceras a união sincera
Nada há que impeça: amor não é amor
Se quando encontra obstáculos se altera,

Ou se vacila ao mínimo temor.

Amor é um marco eterno, dominante,
Que encara a tempestade com bravura;

É astro que norteia a vela errante,

Cujo valor se ignora, lá na altura.

Amor não teme o tempo, muito embora
Seu alfange não poupe a mocidade;

Amor não se transforma de hora em hora,
Antes se afirma para a eternidade.

Se isso é falso, e que é falso alguém provou,

Eu não sou poeta, e ninguém nunca amou".

E, Por Sermos... Amores...Amados...Amantes...Amigos...
Tudo Dito, É Verdadeiro E Por Sê-Lo, Devemos Seguir, 
Como Mandamentos, Imperioso À felicidade...!!!!!
Beijos...!!! Abraços...!!! Um Cheiro...HHHUUUMMM...!!!!



William Shakespeare

AEDH DESEJA OS TECIDOS DOS CÉUS


Fossem meus os tecidos bordados dos céus,
Ornamentados com luz dourada e prateada,
Os azuis e negros e pálidos tecidos
Da noite, da luz e da meia-luz,
Os estenderia sob os teus pés.
Mas eu, sendo pobre, tenho apenas os meus sonhos.
Eu estendi meus sonhos sob os teus pés
Caminha suavemente, pois caminhas sobre meus sonhos.


William Butler Yeats

A ESPORA

Parece-te horrível que luxúria e ira
Cortejem a minha velhice;
Quando jovem não me flagelavam assim;
Que mais tenho eu que me esporeie até cantar?


William Butler Yeats

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Carrego seu coração comigo


Carrego seu coração comigo

Eu carrego no meu coração

Nunca estou sem ele

Onde quer que vá, você vai comigo

E o que quer que faça

Eu faço por você

Não temo meu destino

Você é meu destino meu doce

Eu não quero o mundo por mais belo que seja

Você é meu mundo, minha verdade.

Eis o grande segredo que ninguém sabe.

Aqui está a raiz da raiz

O broto do broto e o céu do céu

De uma árvore chamada VIDA

Que cresce mais que a alma pode esperar ou a mente pode esconder

E esse é o pródigo que mantém as estrelas á distancia

Eu carrego seu coração comigo

Eu o carrego no meu coração.



E.E. Cummings

domingo, 7 de abril de 2013

É EM MOMENTOS DEPOIS DE TER SONHADO

É em momentos depois de ter sonhado
com o raro entretenimento dos teus olhos,
quando (ficando aquém da ilusão) tenho pensado

na tua singular boca que o meu coração tornou sábio;
em momentos quando a cristalina escuridão sustenta

a verdadeira aparição do teu sorrir
(foi por entre lágrimas sempre) e o silêncio molda
essa estranheza que ainda há pouco como minha pude sentir;

momentos quando os meus outrora mais ilustres braços
estão cheios de encantamento, quando o meu peito
usa a intolerante luminosidade do teu regaço:

um agudo momento mais branco do que os outros

- voltando da terrível mentira do sono
vejo as rosas do dia crescerem recônditas.


E. E. Cummings